O novo Musée Atelier Audemars Piguet, com projeto do escritório BIG, em Le Brassus.
POR ELIZABETH FAZZARE | FOTOS: IWAN BAAN | TRADUÇÃO: ADRIANA MORI
Formas curvilíneas parecem ter dominado a imaginação do prolífico arquiteto Bjarke Ingels. Após a abertura de seu espaço de arte The Twist no parque de esculturas Kistefos, na Noruega, no outono passado, um edifício literalmente retorcido cujo interior parece algo como Alice caindo na toca do coelho no País das Maravilhas, o fundador e diretor do escritório internacional BIG criou mais uma estrutura espiralada na Suíça.
Localizado na pequena cidade de Le Brassus (onde a relojoaria está profundamente arraigada na tradição) e aninhado na paisagem do Vale de Joux, o Musée Atelier Audemars Piguet é um museu, oficina e arquivo da marca de relógios de luxo, instalados em um edifício em espiral duplo, cujo telhado verde se torna uma passarela sobre a fachada de paredes de vidro curvas.
Os ambientes no interior sinuoso também são separados por paredes de vidro, permitindo uma visão completa da relojoaria. E o novo museu oferece uma conexão direta com a casa renovada de seu fundador, estrutura histórica que é o berço da marca.
Ingels imaginou o design do ateliê como uma extensão metafórica de um relógio Audemars Piguet.
“Você tem uma espiral, quase como uma mola pairando sobre sua cabeça”, explica o arquiteto. “É inspirado pelo elemento que armazena e fornece a energia no relógio”.
Quando for aberto ao público, o edifício de 2.400 m² permitirá que os visitantes se desloquem intuitivamente por seus círculos concêntricos de espaço expositivo, apresentando a ciência dos 145 anos de relojoaria da marca ao longo desse caminho.
Fazer rampas no interior para conectar placas de piso irregulares demonstra o apuro do projeto e permite tocar o teto, enquanto as janelas de clerestório trazem a luz do sol para o centro do edifício. Um painel de latão com e aço com formato de favo reveste o exterior para fornecer sombra quando necessário.
“Na relojoaria, muitas dos esforços está no que se pode chamar de obter o máximo de impacto com o mínimo de material”, diz Ingels. “É a mesma ideia para essa estrutura, o vidro suporta todo o teto sobre nossas cabeças. O museu é quase como uma obra aberta. Nada está oculto, todos os elementos que você vê são funcionais e fazem parte dos círculos concêntricos.”
A sede da Audemars Piguet fica na cidade de Le Brassus desde que foi fundada em 1875 e a expectativa é que o novo edifício gere um turismo sustentável.
O escritório projetou também um hotel adjacente, com 7.000 m² para atender hóspedes aficionados por relógios.
Ainda em construção, o Hôtel des Horlogers tem cinco níveis em ziguezague, que criam uma passarela inclinada ao longo de sua fachada – uma alusão às trilhas de esqui das redondezas.
Os quartos são acessados a partir dessa passarela e por meio de um corredor interno contínuo e inclinado.
O hotel terá vista privilegiada do vale onde se situa e oferecerá aos hóspedes um bar, um centro de convenções e um spa.
Diz Ingels: “Quando você está projetando arquitetura, é como um retrato. Nunca projetamos um edifício para nós mesmos – é sempre para e sobre outra pessoa e outra coisa. ”
Fotos: Ambroise Tezenas